Certas noites os olhos
pesam, a cabeça dói e as costas não aguentam mais o peso do dia que se passou,
mas a necessidade de escrever é maior, envolto em inspiração e cansaço o
escritor se senta e através de um pouco de tinta que uma caneta contém, coloca
em um pedaço de papel um pedaço de sua alma. Os olhos cansados não conseguem
acompanhar a mão que parece escrever mais rápido que um carro de corrida, na
mesma velocidade que a tinta imprime as palavras no papel, sua alma se preenche
se tornando uma só, colocando vida nos parágrafos que se constroem.
Escrever é mais que um dom, é um prazer sublime e absoluto,
numa espécie de nirvana o escritor se entrega e acredita que suas palavras
poderão ajudar as pessoas, se acredita que um livro tem três almas, a de quem
escreve, a de quem lê e sua própria alma, e, acredite ou não, certos livros têm
a capacidade de mudar vidas e modos de ver, o gosto da vaidade se torna tão
pequeno que o escritor já nem acredita no que escreve e a única coisa que quer
é seu nome impresso em uma capa que provavelmente durará mais que sua miserável
vida.
Como em um jogo mágico de palavras e frases em uma
espécie de transe nascem parágrafos, que minutos depois a memória não se
recorda de ter escrito, palavras que podem trabalhar com dores da alma,
escritas não só com amor, mas ditadas pela própria alma.
Paramos por uns momentos, sentimos o vento da noite,
o brilho da lua acompanhado das estrelas, o distante barulho das ondas
quebrando no mar, e nos voltamos a nosso coração buscando dentro dele a alma e
fazendo silêncio para escutá-la, trabalhamos, corremos, nos estressamos, distraímos,
rimos, amamos, mas não paramos para escutar o que temos de mais puro que é
nossa alma. O que quero falar é que quando escrevemos, mesmo que em um diário,
traduzimos nossos sentimentos, nos imortalizando em caneta e papel.
As pessoas se preocupam tanto em ver as coisas na
balança da razão e emoção, talvez seja o momento de começar a balançar as
coisas em alma e corpo, ou continuar entre a razão e emoção, mas escutar
atenciosamente a opinião de nossa alma nas decisões que tomamos, pessoas de
alma geralmente são apaixonadas pela vida e pelo que as cerca, vivendo cada
minuto como se fosse seu último, e assim vivendo de maneira imortal.
Preste atenção em sua alma, talvez há anos ela queira
falar com você e você ainda não parou para escutá-la, se não sabe como começar,
sugiro um papel e uma caneta para que as primeiras palavras saiam mesmo que não
digam muito, afinal, aprendemos a falar balbuciando as palavras, e da mesma
maneira devemos aprender a escutar nossa alma, escutando suas poucas palavras
muitas vezes sem nexo, mas que têm muito a nos dizer e ensinar